sábado, 23 de janeiro de 2010

O Haiti e o humanismo

O forte terremoto que atingiu o Haiti é mais uma tragédia para o país mais pobre e conflagrado da América Latina. Com mais de 22 milhões de habitantes, sendo 47% analfabetos e 8, em cada 10, abaixo da linha da pobreza, a nação sofre ainda com níveis altíssimos de corrupção e instituições que sequer nasceram ainda.
Todo o planeta se mobiliza para ajudar os haitianos. Alemães, islandeses e japoneses enviaram equipes especializadas em resgate. Até mesmo um sonar de última geração chegou ao Haiti. Norte-americanos e ingleses ofereceram ajuda financeira e já se prontificaram para, junto dos brasileiros e canadenses, reconstruírem o país. Os Estados Unidos também enviaram um porta-aviões adaptado como hospital. Até mesmo a tão criticada Cuba enviou 300 médicos.
Organizações Não-Governamentais dos mais diversos países também se mobilizam para ajudar o Haiti. A Cruz Vermelha Internacional abriu uma conta bancária para receber dinheiro. Do mundo todo chegam donativos de roupas, remédios, alimentos e água.
A apenas dois anos, o mesmo Haiti sofreu muito com a passagem de dois furacões e duas tempestades tropicais que já haviam devastado a pouca infraestrutura que havia no país.
Num momento como esse, acredito que todos devamos nos perguntar: por que precisa acontecer uma tragédia dessas para que o ser humano mostre o seu melhor?
O terremoto foi um incidente que, até o momento, matou dezenas de milhares de pessoas e devastou a capital Porto Príncipe. Mas o Haiti vem lutando contra a fome, a miséria e a pobreza há muitos e muitos anos. Neste exato momento, provavelmente alguma mulher está sendo estuprada em Darfur, no Sudão, bem como homens, velhos e crianças são torturados e mortos. Na Espanha, o povo basco luta há 40 anos por independência, bem como os tibetanos. E o Paquistão continua em forte pé de guerra com a Índia por causa da Caxemira. Podemos também nos lembrar do terrível genocídio nas Balcãs.
Por que é necessário que haja uma tragédia para que a comunidade internacional mobilize-se e mande ajuda? Um acontecimento desses gera repercussão internacional e, por mais que seja uma calamidade, consegue despertar no ser humano a caridade, o amor ao próximo e a capacidade de se colocar no lugar daquela pessoa que sofre.
Só que na verdade, a grande pergunta é: por que isso não acontece sempre ? A maioria dos conflitos, hoje, no mundo, cessaria se houvesse pressão internacional. Mas ninguém fala sobre Darfur, sobre a situação dos bósnios, albaneses, tibetanos. Da mesma forma que, antes do terremoto, pouco se falava sobre a situação dos haitianos.
Lamentavelmente, só tragédias como essa podem despertar o mundo para a situação dos mais de 30 conflitos que hoje acontecem em todo o planeta.


Eduardo Machado é empresário, Juiz Arbitral, Membro da Executiva Nacional do PHS e do Conselho Curador da Fundação Solidarista/FUNSOL